quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

um anarquista

empedernido janota,
que no rubro A se afoita,
cabisbaixo em lenga-lenga,
sob apupos, ar merenda.

longe ausculta a massa ordeira.
como pode o bem que beira a
lhes ditar render só troças?
toma graça, se ergue e glosa.

- quer atar a praça a livros?
- pavoneia imperativos!
- aforismos cafetina!
como abraço algum lhe vinha,

dum qualquer esmaga o baço.
a geral se assusta! e o parvo
põe-lhe um berro na cachola
a berrar: “sê livre, porra!”

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

relógio

tick tock
sounds the clock
- mas só o do ianque no Iraque.

no éden tupiniquim
relógio douto é assim:
triste traste.

domingo, 8 de janeiro de 2012

metamos

"amor: humor"
- diz o Oswald.

"amor: horror"
- digo eu.

a mesclarmo-nos
mescalinados
metamos um
"horror: humor"

- amei!

domingo, 11 de dezembro de 2011

cadafalso

pode sentir-se em clausura
o que se alberga no aberto.

pode sentir-se acuado
o que à vera só acua.

há de sentir-se disperso
sem o reforço do mesmo.

sentir que é algaravia
essa assembleia de ecos.

pode sentir-se hemorrágico
na arritmia do alheio.

o que do parco assovia
ao que do vasto se arma
a cada pulso o ojeriza.

pode sentir-se desnudo
enquanto o necropsia.

pode sentir o capuz
o que se porta carrasco
e ver-se corda & pescoço
onde só há cadafalso.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

desafio

desaprender a insignificância
- meu desafio.

deixar o que em mim puxa ao silêncio.
calar o que só quer ser da cidade.
erguer o horizonte & me espraiar.

careço de um delírio
longe do sebo em que se unem,
entre cervejas e discos raros,
intelectuais de costume,
em sua troca de agrados,
alheios à rua alheia.

antes vedar a via da arrogância,
crer num sentido além da vaidade,
ater-me a sonhos inda não sonhados.

ah... chegar a praças onde só me saibam
pela escrita - alguns nem lembrem o nome -
sem ter de mendigar quaisquer leitores
às portas da menor biblioteca!

restar no gozo de quem me desfolha
quando há muito já for só volumes!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

as mãos

a mão que detém o soco
é tida como ofensiva
à mão que desfere o soco

a mão que desfere o soco
afrouxa o punho debaixo
da mão que detém o soco

a mão que desfere o soco
aponta o dedo mais largo
à mão que detém o soco

a mão que detém o soco
desfaz o muro pro murro
da mão que desfere o soco

a mão que detém o soco
se afasta, treme e se oferta
à mão que desfere o soco

as mãos que se dão sem gozo
unidas miram de cima
o rosto que abriga o soco

sábado, 29 de outubro de 2011

fuga

estou a escapar pela tangente
sem raio que me centre

em breve

a letra que conduz
à língua que me prende

escapa

a ideia que me prende
à boca que conduz

em breve

sem rede que me enrede
estou a escapar como ar
- capaz!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

de nada me serve

de nada me serve
a crença nos deuses
senão que no crer-lhes
me farto de senso.

a voz que não ergo
por cedos pendores
tão firme se porta
que mal se adivinha.

e só no saber-lhes,
sem ter mais deleite
que insânia ocultada,
me pago o seguir-me.

domingo, 18 de setembro de 2011

Hubble

fosse nos dado ver o que a passagem
deixou saltar para aquém do destino
e que se alberga quiçá nesse etéreo
em que lacramos amanhãs olvidos!

pois para isso sim estamos cegos
e os portais do grão saber são cuias
que adensam poças a borrar o senso
mesmo voltado só para o diante!

e toda espreita se mostra imprestável,
pois não há Hubble que aponte o fora,
não há conceito que evoque o quase,
nem esses versos lhe servem de altar!

sábado, 17 de setembro de 2011

cada poeta tem seu ritmo

e

cada poeta tem seu ritmo como
um punho a ditar-se à bomba vital como
uma ranhura que é jamais revista para
não se perder nesse dizível é
pelo ritmo que se identifica pois
cada poeta tem seu ritmo

e

cada poema tem seu arrimo como
um conforto para a tarde densa como
um mar de contas dado à penitência para
não se afogar nesse inefável é
pelo arrimo que se unifica pois
cada poema tem seu arrimo

e

cada poética tem seu rizoma como
uma ilusão a vicejar certezas como
uma janela frente ao impensável para
não se estancar nesse sigilo é
pelo rizoma que se multiplica pois
cada poética tem seu rizoma

e

cada poiese tem seu limo como
uma mulher tem seus anos como
uma manhã tem seus sonhos para
não se arrogar desse castilho é
pelo limo que se sacrifica pois
cada poiese tem seu limo

e