terça-feira, 13 de setembro de 2011

eu sou estrangeiro...

eu sou estrangeiro

estrangeiro
não de carne ou de mapa
as fronteiras mal barram as palavras

(num toque me faço esparso
e lanço-me inteiro aos cantos)

eu sou de fora
nem de mim trago mais que esse trago

não sou formado
dos cacos
de sempres e nuncas que vagam já
entrecruzados

eu sou estrangeiro

não sou retalho ou costura
tapete que se joga ao sótão e é caro

não sou de cinco minutos
ao pé do noticiário
com o peito a calibrar seu silêncio

- e meu solfejo peca só pela clave

eu sou estrangeiro

ainda que a voz vez em pouco tropece
ainda que papéis garantam o acesso
e o umbigo fomente frutos
num quintal que não mais guardo

estrangeiro ainda

zanzando entre os cordéis
daqueles que portam a estada

estrangeiro
no gueto de um só pária

Um comentário:

  1. [...] não sou formado
    dos cacos
    de sempres e nuncas que vagam já
    entrecruzados

    eu sou estrangeiro [...]

    Sou estrangeiro em meus próprios versos.


    Abraços de poesia ficando para continuar te lendo, poeta.

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